top of page

O Baralho Cigano e a Espiritualidade Brasileira: Mitos, História e Escolhas Pessoais

  • Foto do escritor: Brenda Salustiano
    Brenda Salustiano
  • 13 de mai.
  • 2 min de leitura

É cada vez mais comum ouvir que o Baralho Cigano precisa ser consagrado a entidades espirituais para funcionar. Mas essa afirmação não se sustenta quando voltamos à origem histórica do baralho e ao contexto em que ele foi criado.


O Baralho Cigano, na verdade, é uma adaptação brasileira do Petit Lenormand, um baralho europeu que surgiu no século XVIII com o nome “Das Spiel der Hoffnung” — o Jogo da Esperança. Ele foi criado por Johann Kaspar Hechtel e mais tarde associado à cartomante francesa Mlle. Lenormand, que o popularizou por sua atuação como oraculista, mas não o criou.


Esse baralho chegou ao Brasil com a imigração europeia no final do século XIX e início do XX, especialmente com alemães e franceses. Foi apenas aqui que o “Petit Lenormand” passou a ser conhecido como “Baralho Cigano”, muitas vezes por apelo de marketing e mitos sobre misticismo cigano — mesmo que os povos ciganos europeus, de fato, não usassem esse oráculo originalmente.


A Espiritualização do Baralho no Brasil


A consagração do baralho a guias, entidades e forças espirituais é uma prática desenvolvida no Brasil, fruto do sincretismo religioso. Nossa espiritualidade mistura influências de religiões de matriz africana, do catolicismo e do espiritismo kardecista.


Assim, práticas como consagrar baralhos a pretos-velhos, caboclos ou orixás se tornaram comuns — mas isso é uma construção local e não uma regra universal.


Na Europa, o Petit Lenormand é utilizado de forma objetiva, como ferramenta divinatória independente, sem a exigência de ligação com espiritualidade ou entidades. Já no Brasil, essa ferramenta foi absorvida por práticas religiosas como Umbanda e Candomblé, onde passou a ser usada com rituais e consagrações.


Espiritualizar Tudo Não É Necessariamente Evolução


Há quem afirme que só é possível usar o Baralho Cigano se for consagrado a entidades — e isso precisa ser desconstruído com urgência. Impor essa visão como única é repetir o comportamento dogmático de religiões que tentam engessar a espiritualidade.


O baralho não foi criado por entidades, não nasceu ligado a nenhuma força espiritual específica, e tampouco precisa abrir “portais” ou estar “limpo” para funcionar. Ele é uma ferramenta simbólica — e a leitura depende de interpretação, estudo e conexão com a linguagem das cartas.


Se você usa o baralho com uma entidade, isso é uma escolha sua. Assim como é válido não usar com nenhuma. Ambas as posturas são legítimas, desde que conscientes.



ree

A Escolha é Sua — e Deve Ser Respeitada


Você pode consagrar seu baralho a deuses, demônios, orixás, guias espirituais ou qualquer força com a qual você se conecte. Mas o que você não pode fazer é afirmar que isso é obrigatório para todos.


Eu, por exemplo, trabalho com Lenormand há quase 10 anos. Nos últimos 4 anos, deixei de consagrar a maioria dos meus baralhos — e isso nunca atrapalhou minhas leituras. Pelo contrário: quanto menos espiritualizei o baralho, mais cresci na minha prática e mais percebi o quanto as pessoas usam a espiritualidade como escudo para não assumirem responsabilidade por suas escolhas.


Cada praticante tem sua abordagem, e todas são válidas dentro do seu próprio contexto. O importante é entender a origem da ferramenta que você usa e não projetar dogmas sobre ela.


ree

Comentários


Newsletter do Baralho Cigano

logo_lunae_arcana_branco_fundo_preto.png

2025 - Lunae Arcana 

Produzido com amor em MG

Contato: arcanalunae@gmail.com

  • Instagram
  • Facebook
  • YouTube
bottom of page